Breno Loeser
A Função do Deus no Paganismo
O Deus se
manifesta de diversas formas. Fazendo-se presente em todos os momentos, não
apenas nos momentos de poder da Roda do Ano, ele permeia toda a ritualística e
a vida dos que se propõem trilhar os caminhos dos antigos.
Ele, a
cada Esbat, quando celebramos a Deusa, é aquele que se ajoelha
frente ao luar, e imbuído do poder que tem, invoca que a Senhora da Roda
Prateada esteja sobre seus filhos, ajudando-os com seu poder. É ele que entoa o
cântico de amor e conduz a Deusa em sua dança sagrada pelo céu. Seus passos
levam a Deusa a bailar, enquanto Ela espalha o pó das estrelas, conferindo
poder mágico e luz aos que buscam os mistérios pela arcana noite.
Ele também
é a própria Lua. Convencionou-se dizer que a Lua é um símbolo exclusivamente
feminino, ao passo que o Sol é exclusivamente masculino. Mas assim como podemos
observar divindades femininas ligadas ao Sol (Como as Deusas Grian, Grainne, Amaterasu, Sigel e
outras), existem Deuses ligados ao Poder Lunar e seus mistérios, como Gwydion, Chandra, Thoth, Mani e
outros tantos das mais diversas culturas. Relembramos que as sociedades de
outrora ligavam o luar à concepção, e assim a Lua, a priori, foi
tida como um Deus, um fecundador. A lua está também ligada ao tempo. Os
babilônicos tiveram um dos mais importantes calendários, sendo ele lunar, o
qual teria sido feito por Sin, Deus da Lua, Sabedoria e Proteção
contra os inimigos.
Aos que
escolheram trilhar a senda do sacerdócio, o Deus é aquele que nos toma pela
mão, e guia-nos pela noite escura da alma. Ele é aquele que abre as moradas
secretas do nosso ser, que nos leva a olhar para dentro de nós mesmos, e
encarar aquilo que mais tememos, ou que menos aceitamos. Ele é aquele que
mostra as feridas abertas e faz-nos buscar saná-las por nós mesmos, como um
guerreiro solitário. Ele nos incentiva e nos mostra como tratar das dores mais
agudas, as mazelas mais profundas, buscando a cura mais eficaz. É ele que nos
conduz ao submundo e dele nos faz emergir. Ao fim, ele nos capacita e faz com
que, tal qual nos campos de batalha, tenhamos compaixão, amor, amizade,
companheirismo, confiança e disposição para ajudar na cura dos companheiros de
caminho, feridos pelas armadilhas e percussos do viver.
Ele se
posta nos umbrais do mundo entre os mundos, nos desafia a se entregar
totalmente ao caminho que não tem volta, nos prova como a lâmina provada no
fogo. É ele quem nos aponta o fio mortal na hora da resposta mais importante,
do passo mais relevante, no voto indissolúvel. Ao dar a resposta, é ele também
quem nos entroniza, ou não, em seu círculo de força e magia, poder e alegria,
amor e confiança. Mostrar a responsabilidade, apontar os caminhos, apresentar
os perigos são atribuições dele, como também conscientizar-nos de nosso poder
pessoal, incentivar-nos em nossas buscas, lembrarmo-nos do respeito que devemos
a nós mesmos e ao outro.
Na
sexualidade, ele é exemplo de uma vida plena e sadia. Ele é livre, e sua
liberdade permite encarar sua vida sexual como algo que está entranhado no seu
cotidiano. Não existe motivos para vergonha de seu corpo, não existe reserva
para com a pessoa que ele escolhe para ter seus momentos de prazer, e não
existe culpa no prazer desfrutado, pois ele compreende que todo ato de amor e
prazer são rituais. Ensina isso aos seus filhos, mostrando que a diversidade de
corpos, cores, opiniões e opções são algumas das muitas faces que resguarda a
divindade. O desnudar-se é mais que meramente o livrar-se das roupas, é o ato
de autoaceitação que nos faz nos religar ao Eu Superior que em nós habita.
Aos
garotos, ele é o pai que ensina, que é companheiro, que compreende, que ama.
Ele não é o homem que meramente participou da sua geração, que por convenções
sociais e pressões de gênero o relega aos cuidados da mãe, deixando uma lacuna
sentimental em seu ser. Ele é aquele que estabelece leis, parâmetros, que
ensina, que o ajuda a transpor obstáculos, que o desafia frente às
dificuldades, buscando que ele possa ser submetido a verdadeiros ritos de
passagem, que o eleve a uma nova condição, que o coloque na condição de homem.
Ele nos abraça quando temos frios, nos acarinha quanto estamos tristes, nos
protege quando estamos indefesos, nos beija quando precisamos de amor, e nada
disso diminui nossa masculinidade, seja qual for a nossa idade.
Às garotas,
ele é o que protege, mas que também sabe que uma proteção exacerbada é
opressora, diminuidora, tolhedora de liberdades. O Deus sabe que a Deusa tem a
sua individualidade, e é sábia o suficiente para todos os assuntos. Para homens
sagrados, o Deus tem como papel ser um espelho no qual possamos exercer nosso
sacerdócio de forma digna e honrada, uma masculinidade respeitosa e
libertadora, sendo instrumento de liberdade para si e para as mulheres que
conosco vivem. O Deus conduz os passos que a Deusa em liberdade cria.
Honre a
divindade que vive em você, dando preferência à abordagem prática, cotidiana
dela. Traga o Deus para uma convivência íntima e ininterrupta consigo todos os
dias.
Fonte: “À Direita do Altar: A Função do Deus
no Paganismo (Part. 2)” por Samildanach
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