São Patrício é, muito resumidamente, conhecido como o bispo que levou o Cristianismo à Irlanda. Hoje ele é o patrono apóstolo do país. Mas antes que vocês se perguntem por que um cristão é tão reverenciado (e ainda por cima aparece num site sobre Bruxaria), você deve saber como tudo aconteceu e também conhecer sua história, cheia de lendas, mitos e marketing católico.
Patrício nasceu em uma modesta vila celta, de onde foi sequestrado por piratas para ser vendido como escravo, condição em que permaneceu por quase uma década, até conseguir fugir e partir para o mosteiro de Ésir, na Gália (atual França). Um dia, ele resolveu voltar para a Irlanda com a missão de converter os irlandeses. Por volta do ano 461, chegou ao país com uma diplomacia incrível e, vale citar, talento para magia, porque há diversas lendas envolvendo duelos (sempre bem sucedidos) com grandes druidas etc etc. Como prova de seu sucesso, em trinta anos, segundo a Igreja Católica, São Patrício teria fundado 365 igrejas, sagrado o mesmo número de bispos e ordenado 3.000 prebísteros, fazendo a Irlanda ser conhecida como a “Ilha dos Mosteiros” ou “Ilha dos Santos”.
Depois da versão psicodélica oficial, podemos analisar com um pouco mais de ceticismo os fatos.
Pra começar, Patrício seguia uma doutrina que pouco tinha a ver com a defendida pelo clero católico. Para citar somente um dentre vários exemplos, ele batizava somente crentes que fossem adultos e tivessem consciência do que estavam fazendo, e mesmo assim, contrário ao que fazia a Igreja Católica, os batizava por imersão. As tais igrejas fundadas por Patrício na Irlanda, então, fogem totalmente do que a Igreja Católica estipula em diversos aspectos, o que gerou uma confusão fenomenal anos mais tarde, como vocês podem imaginar. Muitos dizem que Patrício foi o responsável por um “cristianismo céltico”, pois o Cristianismo que ele inseria na ilha era muito misturado com o Druidismo, espiritualidade local. A Irlanda era predominantemente pagã.
Um dos feitos atribuídos a Patrício foi o extermínio das serpentes na Irlanda, o que não passa de uma metáfora para mostrar o triunfo do Catolicismo sobre o Paganismo. Porém, o interessante é que não existem serpentes nativas na Irlanda. Outra característica comum de São Patrício é sua relação com otrevo, que ele teria apanhado do chão para converter os irlandeses à santíssima trindade. A partir daí, o trevo tornou-se um dos maiores símbolos da Irlanda. Oras, o que ninguém dizia é que, entre os celtas, o conceito de trindade já era bastante conhecido e o número três considerado até sagrado, pois todo o universo era tripartido (corpo, mente e espírito, dentre outros conceitos). Então foi fácil para Patrício fazer todo mundo achar a trindade sagrada.
Outra coisa importante a ser levada em consideração é que o processo de cristianização da Irlanda não foi de um dia para o outro. Não é assim que uma população inteira deixa de ter uma crença e passa a seguir outra. Os irlandeses foram fiéis à sua espiritualidade nativa, o Druidismo, porém aos poucos a nova doutrina foi sendo aceita. Não houve violência, ao contrário do que ocorria em outros países da Europa. O Cristianismo chegou à Irlanda em paz. Outro diferencial também é que os mosteiros eram muito diferentes, sendo mais semelhantes a grandes centros de cultura do que a igrejas propriamente ditas. Lá foram encontrados não só escrituras cristãs, como muita coisa escrita sobre os celtas e sua mitologia, incorporados por diversos elementos de arte celta que podem ser vistos com agradável surpresa em escritos como o Livro de Kells.
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